Impacto Social em Habitação de Interesse Social

Onde:

São João Del Rei, Minas Gerais

Quem faz:

Arquitetas Nômades

Ano:

2021

A Arquitetas Nômades é uma iniciativa de impacto social, formada em 2017, por arquitetas autôno­mas. Uma iniciativa que nasceu com o intuito de gerar impacto social em habitação diante de um cenário de inadequação habitacional preocupante e sem perspectivas de soluções a curto prazo.

Desde o inicio das suas atividades a Arquitetas Nômades oferece soluções para o atendimento das demandas habitacionais de inadequação que envolvem a assessoria técnica, mão de obra, materiais e o planejamento para a reforma de ambientes com parcelas que cabem no bolso de quem pode pagar ou através de subsídio com­pleto em casos de famílias em situação de vulnerabilidade social, impactando assim toda a parcela da população afetada pelo problema. Na sua primeira fase o negócio realizou 20 obras, sendo 08 no modelo de venda, com ticket médio de R$ 6.500,00 por obra, e 12 no modelo de subsídio, com ticket médio de R$ 5.300,00 por obra. Os recursos subsidiados são oriundos de editais e doações.

O ano de 2020 marcou um aumento do número de atendimentos das Arquitetas Nômades. A pandemia trouxe a preocupação com a saúde e qualidade de vida, onde a casa assumiu um novo papel e escancarou a necessidade de resolução de patologias encontradas na própria residência, como infiltração, mofo, umidade, falta de iluminação e ventilação natural.

Para o atendimento da demanda que é maior que a capacidade operacional do negócio, as Arquitetas Nômades adotam critérios de seleção que possuem uma ordem de pesos e estão vin­culados primeiramente à condição de habitabilidade relacionada a infiltração, mofo, umidade, falta de ventilação e iluminação natural, falta ou problemas relacionados ao telhado e à água canalizada. Em segundo lugar avaliam questões de saúde relacionadas a problemas respiratórios, pessoas acamadas, portador de necessidade especial (física e mental), dificuldade de locomoção, doenças graves e problemas de saúde crônicos. O terceiro critério é o social que avalia a presença de gestantes, idosos, famílias com bebês e chefiadas por mulheres. Por último, a questão econômica relacionada ao recebimento de be­nefícios governamentais e a falta de renda fixa. À partir desse sistema de pon­tuação elege-se as prioridades, respeitando as particularidades de cada caso.

Ações deste tipo são experimentadas por iniciativas em todo o Brasil e, em alguns estados tem contado com o apoio institucional do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, através de editais de patrocínio. Um destes editais contemplou ações e projetos no estado de Minas Gerais dentre as quais estava o projeto Reformas Subsididas das Arquitetas Nômades cujo objetivo foi o de realizar reformas aplicando soluções técnicas e alternativas para suprir a deficiência do abastecimento de água e solução das patologias relacionadas à insalubridade e periculosidade em habitações precárias para po­pulação em vulnerabilidade social, reduzindo diretamente o risco de doenças respiratórias e consequentemente a ocupação de leitos na UTI tão necessários em casos emergenciais e de colapso do sistema de saúde. Os territórios foco da ação foram Águas Férreas e Águas Gerais. Ao todo foram realizadas 08 reformas.

A primeira obra realizada no âmbito do edital do CAU/MG foi da casa da Dona Laura. O objetivo com essa reforma foi proporcionar uma melho­ria na qualidade de vida da D. Laura e sua filha, com a diminuição do risco de surgimento de doenças relacionadas à insalubridade, principalmente por se tratar de moradoras com idade avançada e outra acamada. O foco foi resolver os problemas de infiltração e mofo através do telhamento da casa e propiciar consumo de água adequado, uma vez que a caixa d’água antiga estava impró­pria para uso. Para tanto foi realizada a platibanda, telhado em estrutura de madeira e telhas de fibrocimento, assim como as pingadeiras. Para garantir a vedação e por fim a qualquer problema de infiltração foi feito o fechamento das laterais com arga­massa, com as telhas encaixadas na alvenaria. A calha metálica foi instalada na parte frontal do telhamento e houve a troca do reservatório com levantamento da sua base de apoio.

A segunda obra foi a da Rosêngela. Nesta reforma o objetivo foi acabar com o grande vaza­mento de água dentro de casa nos períodos de chuva, decorrido principalmen­te da instalação incorreta do telhado com grandes aberturas nas laterais e a deficiência do abastecimento de água com a instalação de um reservatório. Para tanto primeiro foi retirado o madeiramento e as telhas, para levantar a alvena­ria das laterais da casa e permitir que o telhado fosse embutido na alvenaria. Todas as telhas danificadas ou estragadas foram trocadas e optou-se por instalar uma faixa de telhas transparentes ao longo da edificação, que é com­prida e estreita, portanto com deficiência de iluminação natural. No perímetro de todo o telhado foi colocada pingadeira de fibrocimento e as águas do telhado têm níveis diferentes , caindo a água frontal (mais alta) sobre a posterior que dá para o quintal. A caixa d’água foi instalada acima da laje do banheiro, assim como toda a tubulação devida e posterior cobertura com o telhado. O resultado foi segurança no período de chuvas, abastecimento correto de água e iluminação natural.

A terceira obra foi a da Sandra que teve como objetivo resolver essas patologias que podem prejudicar a saúde. Na parte interna, para resolver a infiltração no quarto dela, foi feito o lixamento e descascamento das partes do teto dani­ficadas pela infiltração. As instalações elétricas foram refeitas e  por fim a pintura do quarto após ter resolvido a raiz do pro­blema com a execução do telhado. O resultado proporcionou um ambiente sem infiltração, umidade ou mofo, prevenindo problemas de saúde relacionados à essas patologias. Para o telhamento a alvenaria foi levantada em 60cm. Feito o madeira­mento foram colocadas as telhas de fibrocimento parafusadas com caimento para o fundo da casa e a colocação da calha. Na parte frontal da casa as telhas foram encaixadas na platibanda que foi finalizada com pingadeiras de telha co­lonial. Para o restante da laje que não pertencia à parte da casa, e que portanto não teve telhamento, foi realizada a impermeabilização. Com essas etapas foram resolvidos os problemas de infiltração da casa.

A quarta obra atendeu a família da Josilene. O objetivo principal foi deixar o quarto que eles tinham inacabado pron­tinho para receber as filhas do casal, uma vez que dormiam os 5 integrantes da família no mesmo cômodo que não tinha as condições adequadas para abrigar as crianças, causando constantes resfriados e gripes. Para resolver esse problema foram feitos reparos na instalação elétrica, as pare­des internas foram rebocadas e pintadas, o contrapiso foi nivelado e assentado piso e rodapés. Para finalizar foi instalado o forro em PVC e acabamentos.

A quinta reforma foi da casa da Glorinha. O objetivo principal foi proporcionar condições de higiene para mãe e fi­lha e para tanto foram realizadas instalações hidrossanitárias, do reservatório de água, de energia elétrica, de louças e metais e de uma basculante na altura adequada, assim como o nivelamento e contrapiso, assentamento dos azulejos na área de banho à altura de 1,60m do piso, pintura da alvenaria que não foi revestida, instalação do forro pvc e instalação dos acabamentos de elétrica.

A sexta reforma foi na casa da Carlinda. O objetivo foi dar condições de salubridade ao banhei­ro, resolvendo tanto os problemas de falta de água, quanto de falta de luz que o cômodo apresentava. Para tanto, na parte interna a janela antiga foi trocada por um basculante, foi instalado um novo vaso e uma nova pia, pois a antiga estava quebrada. Os azulejos da parede foram mantidos e pintandos com tinta apropriada, já que estavam em bom estado, porém muito manchados. O piso foi refeito, com a devida instalação hidrossanitária e assentamento do revestimento novo. A parte elétrica também foi toda refeita, com ligação de um ponto de luz, interruptor e tomada. Para resolver o problema da falta de água foi instalado um reservatório.

A sétima reforma foi na casa da Vicentina e o objetivo da reforma foi o de resolver a infiltração na casa. Para tanto foi realizada uma reforma no telhado incluindo algumas adequações ao reservatório.

A oitava reforma foi na casa da Eduarda, que não tinha telhamento na laje o que ocasionava infiltrações e goteiras agravando o quadro de bronquite da criança da casa.

As Arquitetas Nômades participaram de alguns programas de ace­leração e quando compreenderam  o problema, a dor do cliente e estruturaram o propósito da iniciativa, levantaram um capital inicial em torno de R$27.000,00, sendo a maior parte via financiamento coletivo em 2018.

Os aprendizados tornaram-se diretrizes para obras subsequentes e já experimentou a execução de obras envolvendo voluntariado da Universidade Federal de São João Del Rei e ONG Engenheiros Sem Fronteiras. O modelo de negócio de impacto hoje já está atendendo outras cidades do interior.

Ficha Técnica:

  • Texto: Amanda Carvalho, fundadora da Arquitetas Nômades com contribuições de Camila Leal, atual Conselheira da Arquitetas Nômades
  • Edição: ArqPop
  • Fonte: Arquitetas Nômades – Impacto Social e Habitação
  • Fotos: Arquitetas Nômades
  • Mais Informações: https://www.arquitetasnomades.com.br; @arqquitetasnomades;