O Kilombo Urbano Ocupação Canto de Conexão, localizado na zona portuária da cidade de Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul, tem se constituído como um espaço de referência para moradia em caso de necessidade da comunidade, dispondo de  alguns quartos na sede da ocupação e promovendo ações direcionadas para as demandas comunitárias, sendo algumas delas culturais, de alimentação com hortas comunitárias e distribuição de marmitas, biblioteca comunitária e acesso à moradia.

O espaço do Kilombo tem abrigado principalmente novos alunos da universidade vindos de outras cidades. A partir deste conjunto de ações o Kilombo e seus apoiadores colocam o debate da problemática habitacional e da moradia estudantil no centro das suas atividades.

Para atender as demandas o Kilombo desenvolve as suas atividades em rede e iniciou o projeto para a casa da Aline com o envolvimento e o apoio dos estudantes e dos servidores da Universidade Federal de Pelotas. Essa articulação possibilitou as doações de materiais de construção residuais e sem uso. A princípio o intuito era de tratá-los e reaproveitá-los para melhorias que seriam desenvolvidas na edificação do Kilombo. No entanto, ao longo do caminho a construção de novas moradias e melhorias habitacionais surgiu como uma demanda da comunidade sendo assim iniciado o reaproveitamento para redução do déficit habitacional. Os materiais doados são dos mais diversos, desde esquadrias, como portas e janelas reaproveitadas, até sacos de cimentos e telhas doadas

Ativista em várias frentes, o Kilombo construiu duas unidades habitacionais, a casa da Marina, que foi a primeira, iniciada em 2019 e a casa da Aline, iniciada em 2020 e finalizada em 2021. Também foram realizadas inúmeras ações de melhorias habitacionais a partir desta articulação, contribuindo para a redução do déficit habitacional e fazendo uma ação de caráter formativo para todos os envolvidos nos processos. As casas construídas estão localizadas na barragem de contenção do arroio São Gonçalo, conhecido como Doquinhas e no loteamento Barão de Mauá. Já as melhorias habitacionais ocorrem em diversos bairros periféricos da cidade de Pelotas.  

As ações desenvolvidas são destinadas às famílias mais vulnerabilizadas da comunidade, com recorte racial e de gênero, entendendo as mulheres negras como prioridade para o desenvolvimento das atividades.

Na construção das unidades habitacionais, o Kilombo foi o articulador e o ponto de conexão entre diferentes profissionais, estudantes e comunidade, contando com o apoio de arquitetos e urbanistas na elaboração dos projetos e na assessoria técnica para a execução que, no caso da Casa da Aline, ocorreu através de mutirão, e envolveu apoiadores e moradores, como foi o caso as Casa da Aline.  O banco de materiais articulado e estruturado pelo Kilombo hoje é uma referência para a comunidade sendo inclusive indicada pelo CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) da região

Com relação ao processo, na medida que carregamentos de novos materiais chegam ao Kilombo, são destinados ou para distribuição para comunidade ou para melhorias na estrutura da própria edificação da ocupação. Estando sempre aberto ao recebimento de novos materiais residuais com possibilidade de reutilização mediante tratamento ou doação de materiais excedentes de obras e construção.

O trabalho de melhorias e construções se dá principalmente por materiais alternativos que ainda são subestimados em algumas áreas da construção civil, assim como reaproveitamento de pneus e estruturas e acabamentos com caixas de leite e em madeira com pinos e costaneiras. Para as alunas de arquitetura a experiência do processo de construção foi importante para melhor entendimento de materiais e técnicas pouco evidenciadas no período da graduação e relevante para construção profissional a partir do acompanhamento de obra e o contato da prática da construção.

A organização da construção da casa da Aline aconteceu com uma rotina para execução coletiva com encontros no início da manhã e no final da tarde evitando o período de maior exposição ao sol. Foram primeiramente desenvolvidas as fundações e a base de madeira para futura instalação do assoalho e estrutura vertical. Para o fechamento vertical foram utilizadas estruturas de madeira, costaneiras para acabamento externo e caixas de leite para acabamento interno como meio de reduzir a entrada de intempéries pelas frestas deixadas pela madeira.

A casa foi toda desenvolvida em madeira desde seu estrutural até a maioria de seus acabamentos, em alguns casos a partir de material reutilizado e em outros comprada também a partir de doações em dinheiro, assim como as telhas para compor o telhado.

Ficha Técnica: